Carta-compromisso, por Yeda Crusius*
14/07/2008
Por dever de ofício e interesse cívico, mais do que qualquer outra pessoa, tenho refletido sobre os fatores que permitiram, durante tantos anos, a seqüência de atos hoje denunciados, ocorridos no Detran. Como cidadã consciente, reagi. Como governadora, tomei todas as medidas para que se averigúe até o limite de punição dos responsáveis e a recuperação dos valores tomados ao Estado.
Enquanto nosso governo operava um rigoroso dever de casa, economizando tostões, com real ônus político, infligindo a si mesmo severíssimas restrições na despesa, tendo que dizer às justas demandas que nos chegam muitos "não" e raros "sim", naquela autarquia surge a denúncia de milhões de reais se desviando por uma rede de ilegalidades e corrupção, por muitos anos seguidos.
Isso me leva a uma primeira conclusão. Não tenho dúvida ao afirmar que o episódio do Detran, em relação ao qual sempre agi no tempo certo e no modo certo, se armou e desenrolou sob a bruma de um excessivo sentimento de autoconfiança. Somos induzidos a crer que estamos imunes, por formação e cultura, a determinadas enfermidades morais. É como se o frio e a geada nos livrassem de certas pragas. Mas isso não é verdadeiro, porque o mal sempre encontra um modo de se infiltrar pelas frestas da rotina e pelas debilidades da natureza humana, principalmente quando neste ciclo mundial as instituições mais tradicionais vão tendo que se abrir para incluir transparência e agilidade como atributos essenciais de sobrevivência no servir o público.
Foi tudo muito triste. Nenhuma alegria pode provir de algo tão lamentável. Nenhum dividendo político pode ser extraído legitimamente de situação tão grave. O contato com essa realidade causou abalo e sofrimento a todas as pessoas de bem. Enquanto pelo lado da gestão e do desenvolvimento econômico e social nosso governo contabiliza avanços; de outro, o Estado - não apenas o governo - saiu ferido em seus brios. E contra isso nos levantamos todos para mais uma importante tarefa caseira, em consonância com o ditado popular: casa arrombada, tranca na porta.
É a segunda conclusão a que chegamos. Torna-se imperioso rever todos os nossos instrumentos de controle. O importante conjunto de medidas que estaremos adotando nos próximos dias farão do Rio Grande do Sul o Estado mais transparente e bem controlado, no que tange ao respeito ao dinheiro público, do Brasil. Vamos envidraçar as estruturas de despesa do governo, seus centros de custo, como no Detran, e montar uma rede de cruzamento de informações que irá trancar e retrancar nossas portas à ação dos malfeitores. Nosso governo não teme a luz do dia. Pelo contrário, é nela que se fortalece e dela que se alimenta. Por isto, oferecemos ao povo gaúcho nossa carta-compromisso.
*Governadora do Estado
Fonte: Zero Hora
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