General é chamado para a segurança
28/07/2008
Surpresa no Piratini
Ainda não tinha se passado uma hora desde a posse, e o novo secretário estadual da Segurança Pública, general Edson de Oliveira Goularte, decidiu almoçar no Presídio Central.
Foi um gesto simbólico, já que o sistema prisional gaúcho enfrenta uma greve de agentes penitenciários e foi assolado por microrrebeliões no fim de semana - uma delas, resultando na morte de um detento sábado, em Alegrete.
Ladeado de oficiais da Brigada Militar, o general reservista do Exército de 66 anos - guindado surpreendentemente ao posto máximo da segurança pública gaúcha - resolveu, como disse aos novos subordinados, conhecer "a fera" por dentro. O Presídio Central de Porto Alegre, no caso, é uma fera amansada. Por ser controlado por PMs, não sofre com a greve deflagrada pelos agentes. O general almoçou o mesmo que os presos: arroz, feijão, massa e galinha frita.
Como sobremesa, o novo secretário, desconhecido do restante da cúpula da pasta, comandou uma reunião com o Estado-Maior da BM. Objetivo: estratégias para impedir que os protestos nas prisões se alastrem. Goularte aprovou as cinco intervenções deflagradas pelos PMs em presídios rebelados no fim de semana. Ouviu muito e falou pouco.
O silêncio é a marca registrada do general-de-brigada Goularte. A sua escolha para comandar a Segurança Pública foi uma surpresa para muitos amigos e inclusive para os que ocupavam cargos de chefia na secretaria. É que, de fato, a decisão foi tomada às pressas. A governadora tinha urgência em contornar a crise nos presídios. Ela chamou Goularte para o posto pouco mais de 24 horas depois da saída do delegado federal José Francisco Mallmann. Empossou em pleno domingo o militar, que deixou a farda em 2000. A solenidade, antecedida por uma edição extraordinária do Diário Oficial, aconteceu às 11h45min, no Palácio Piratini. O ex-secretário Mallmann não compareceu.
Se o anúncio foi surpreendente, o nome do general circulava desde o ano passado dentro do governo. O próprio Mallmann havia aventado a possibilidade de o oficial assumir como secretário-adjunto, durante a sua gestão. Quando o delegado deixou o cargo, na sexta-feira, Goularte já estava praticamente escolhido. Yeda não nega que houve uma longa costura política.
- Eu tinha determinado para mim mesma um perfil. O nome dele veio com muita conversa e muita consulta. Estamos discutindo segurança pública permanentemente dentro do governo. O general vai continuar um planejamento que já vinha sendo tocado pelo secretário Mallmann - resumiu a governadora.
A decisão foi tomada no sábado. Uma das mais entusiasmadas com a escolha é a secretária estadual da Cultura, Mônica Leal. Colega de Goularte num curso de pós-graduação em Ciências Políticas que ambos cursaram na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) em Canoas, Mônica se derrama em elogios ao general.
- Ele é profundo conhecedor da segurança. É o que precisamos.
O general é um homem orgulhoso da farda que usava.
- Minha existência está vinculada ao Exército, instituição na qual servi 41 anos, seis meses e dois dias. Estava precisando dessa nova missão - discursou o general, ao tomar posse.
Goularte afirmou que não pretende mudar a formação dos órgãos vinculados, nem dos principais cargos da secretaria. Ele deverá chamar inicialmente pelo menos dois assessores, provavelmente colegas de Exército.
- É simplesmente uma troca de bastão. Sou encarregado de levá-lo um pouco mais à frente. Torço chegar até o fim, atendendo à política da governadora - comparou.
Comandante da BM conheceu novo secretário no sábado
O general assumiu acompanhado pela mulher, Tânia Helena Segalla Goularte, que recebia os cumprimentos em nome do casal. Um grupo de oficiais da reserva e reformados do Exército foi o primeiro a abraçar o novo secretário. Outro que fez questão de cumprimentar Goularte, pelo celular, é o senador Sérgio Zambiasi (PTB). O general é ligado ao PTB: apoiou a campanha do vereador Maurício Dziedricki e ajudou a elaborar, como consultor do PTB, o programa de governo do prefeito José Fogaça na área de segurança. Também integra o Instituto Solon Tavares (órgão de formação política do partido).
Apesar dos inúmeros contatos políticos e militares, o novo secretário é um desconhecido entre os policiais gaúchos. O coronel Paulo Roberto Mendes, comandante da Brigada Militar, foi apresentado a Goularte na noite de sábado. O general garantiu que irá manter a política de segurança do governo, ampliando programas estruturantes.
- Não temo. Me preparei adequadamente para assumir uma função de tal porte. Tenho certeza que o comandante da Brigada, o chefe de Polícia e os diretores do Instituto-geral de Perícias e do sistema penitenciário me ajudarão - declarou.
Fonte: Zero Hora
|
|