Crise nos presídios acelerou escolha
28/07/2008
Embora na sexta-feira tenha afirmado que não tinha pressa em nomear o novo secretário da Segurança, a governadora Yeda Crusius foi aconselhada no mesmo dia por interlocutores a não deixar o flanco aberto em uma área sensível.
Pressionada pela crise nos presídios, Yeda se dispôs a acelerar a nomeação e a iniciar a semana com o assunto resolvido.
A preferência pelo nome do general Edson Goularte foi mantida em um grupo restrito muito próximo à governadora e ganhou corpo diante das notícias de rebeliões em presídios. As negociações com o general avançaram durante a tarde de sexta-feira e a manhã de sábado, mas somente no início da noite o primeiro escalão começou a ser comunicado.
- A governadora ouviu muita gente, trabalhou sem parar. Foram muitas reuniões - diz o chefe da Casa Civil, José Alberto Wenzel.
Yeda estava emocionada no sábado, quando completou 64 anos. Chegou a chorar em uma festa no Palácio Piratini, à noite, diante da família e de amigos. Também aproveitou para anunciar sua decisão.
- Ela estava muito sentida com a morte do preso (Joel dos Santos Bitencourt, leia página 6) - diz Wenzel.
O nome do general Goularte "surgiu naturalmente", dizem integrantes do governo depois da governadora e o secretário do Meio Ambiente, Carlos Otaviano Brenner de Moraes, cotado para o cargo, chegarem a um entendimento de que seria melhor não mexer na área ambiental, que o governo teria conseguido apaziguar. A indicação de Brenner chegou a ser dada como certa inclusive por secretários.
Há cerca de 20 dias, o general participou de uma reunião com o então secretário José Francisco Mallmann, que cogitava nomeá-lo seu adjunto, na saída do delegado Dagoberto Garcia. Conforme fontes da Secretaria da Segurança, Mallmann teria chegado até o general por intermédio da secretária da Cultura, Mônica Leal, filha do coronel da reserva do Exército Pedro Américo Leal e que foi colega de Goularte em um curso de pós-graduação em Ciência Polícia na Ulbra. Mônica teria feito elogios a respeito do general ao então secretário Mallmann e também à governadora.
Com o desgaste do próprio Mallmann se agravando desde a Operação Rodin da Polícia Federal, o nome de Goularte ganhou força. Yeda buscava nomes de fora da Polícia Civil e da Brigada Militar, para não causar constrangimento às corporações. Seu leque entre membros de partidos aliados também ficou restrito após a passagem turbulenta do deputado Enio Bacci, do PDT, pela pasta. A indicação do deputado Márcio Biolchi pelo PMDB foi descartada por secretários com maior influência sobre a governadora.
Associações dizem que secretário é uma incógnita
Delegado Wilson Müller Rodrigues, presidente da Associação dos Delegados da Polícia Civil
"Não temos opinião nem o conhecemos. Esperamos que ele saiba conduzir os assuntos complexos da área da segurança. Ele está acostumado a lidar com hierarquia e disciplina, mas esperamos que conheça a área. Que saiba, por exemplo, que no Interior, se as prefeituras deixarem de dar combustível, estagiários e material de expediente, metade das delegacias pára. E esperamos que, além das medidas operacionais que precisa adotar, ele se alie a nós na questão salarial e material. Confiamos na escolha do governo. É uma praxe nossa dar um voto de confiança."
Coronel Cairo Camargo, presidente da Associação de Oficiais da Brigada Militar
"Não conhecemos o que ele pensa sobre segurança pública. Esperávamos por alguém que já conhecesse a área. Mas saiu de um federal (delegado federal José Francisco Mallmann) para outro. Nossa opinião é pela extinção da secretaria, já que o secretário só tem servido como amortecedor de problemas para o governo. Mas se não for extinta, a secretaria tem de ser mais enxuta. Se o secretário se limitar a coordenar as polícias e não a comandar - o que é difícil, pois um general comanda - e a buscar projetos de recursos, se for um parceiro das polícias, mostrando que há necessidade de salário para esse pessoal, aí pode ser que comece a desentranhar a segurança no Rio Grande do Sul."
Leonel Lucas, presidente da Associação Antônio Mendes Filho dos Servidores de Nível Médio da Brigada Militar (Abamf).
"Pelo discurso (ontem, na posse), ele não pensa quase nada de segurança pública, pois disse que vai manter as mesmas metas. Se vai continuar como está, por que trocar (o secretário)? Para nós, ele é um desconhecido. Estamos preocupados. Qual experiência que um general tem na segurança urbana? Ficou quase 50 anos dentro do Exército. Esperamos que nos chame para que conheçamos as metas dele."
Fonte: Zero Hora
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