Água no feijão
14/08/2008
Piratini adia assinatura de empréstimo e garante vinda de Dilma
Por pressão do Palácio do Planalto, a governadora Yeda Crusius terá de dividir holofotes com líderes petistas. Marcada para a noite de ontem, a cerimônia de assinatura do empréstimo de US$ 1,1 bilhão do Estado junto ao Banco Mundial (Bird) seria um alívio em meio à crise política vivida pelo Piratini. Convidados na última hora, porém, parlamentares e ministros do governo Lula não gostaram de ficar de fora da festa. Apesar da saia-justa, uma nova data já foi escolhida: 1º de setembro, às 11h.
Transformada em fato político, a negociação da nova agenda mobilizou tucanos e petistas. Mas o recado de Brasília chegava com peso palaciano: candidata de Lula à sucessão presidencial, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, faz questão de estar presente.
– Dilma tem vontade de ir, mas quarta-feira é impossível – reforçou um interlocutor da ministra.
Foi na tarde de terça-feira que toda essa mobilização começou. Ao receber o convite para a solenidade – com aval do Planalto –, o líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT), telefonou para o secretário da Fazenda, Aod Cunha, um dos principais negociadores do empréstimo.
– Tenho críticas quanto à decisão da data. Trabalhamos juntos para defender os interesses do Estado e na hora da festa só os mais amigos são convidados? – questionou o líder.
Ministros da Fazenda e da Casa Civil estarão presentes
Na conversa, Fontana argumentou que a noite de quarta-feira é a data mais complicada para parlamentares e ministros. Com agenda de votações na Câmara e no Senado, além de reuniões na Esplanada, autoridades federais não teriam como viajar ao Estado. Aod respondeu que levaria a reivindicação à governadora. Na manhã de ontem, o secretário ligou para Fontana, confirmando que a solenidade seria adiada. No início da noite, Piratini e Planalto bateram o martelo: a festa ficou para 1º de setembro, uma segunda-feira. O líder do governo assumiu a missão de conciliar a agenda das autoridades petistas. Além de Dilma, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já confirmou presença.
– Agora, definimos juntos a nova data – comemorava Fontana.
Secretário reconhece atraso em emissão de convites
Não demorou muito para que o caso do contratempo dos convites na Capital Federal chegasse ao secretário-geral do governo gaúcho, Erik Camarano. Responsável pela cerimônia, ele determinou uma revisão nos e-mails para confirmar a lista de convidados. O secretário reconhece que o aviso chegou em cima da hora, mas tem uma explicação para a pressa da governadora.
– Estávamos por conta da agenda do diretor do Bird, John Briscoe, e preocupados com a queda do dólar – justifica o secretário.
Ele, porém, não lamenta a alteração nos planos. A idéia de uma cerimônia para cerca de 60 pessoas, com direito à recepção no Galpão Crioulo do Piratini, está mantida. Só que, agora, com a badalação que a presença de ministros sempre garante aos eventos regionais.
Quem não gostou da submissão do Piratini aos interesses do Planalto foram colegas de partido de Yeda. O deputado tucano Claudio Diaz reconhece o esforço das bancadas e do governo federal, mas não vê sentido nesta ingerência acerca da data de assinatura.
– Uma questão econômica virou assunto político. Eles querem tirar os méritos do governo do Estado nessa negociação. Eles querem ofuscar a Yeda – reclama Diaz.
Senadores não sabiam de cerimônia
Alheios à negociação entre o Piratini e o Planalto sobre a data da solenidade de oficialização do empréstimo do Banco Mundial ao Estado, os senadores Paulo Paim (PT) e Sérgio Zambiasi (PTB) afirmavam que sequer haviam sido convidados para a festa. Aliado de Yeda no Estado, Zambiasi sabia da assinatura, mas não tinha certeza sobre a data.
– Fiquei sabendo do adiamento por jornalistas – admitiu.
Horas depois, alertado por assessores, o petebista fez questão de esclarecer o que seria um desencontro de informações:
– Está aqui, o convite chegou no gabinete na noite de terça-feira. Mas só hoje (ontem) fiquei sabendo – corrigiu.
Da bancada gaúcha no Senado, apenas o gabinete de Pedro Simon (PMDB) confirmava o recebimento do convite por fax e que o evento estava registrado na agenda do senador. O adiamento também chegou por fax, mas somente às 15h28min de ontem. Ainda assim, Simon – que fez seis horas de vigília em plenário para assegurar o empréstimo ao Estado – já havia decidido permanecer em Brasília, alegando outros compromissos.
– Fui informado do adiamento e gostaria de estar presente. Mas não quero comentar, estou por fora – retrucou Simon, evitando a polêmica.
Fonte: Zero Hora
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