Quase dois anos depois de implementar um duro ajuste fiscal no Estado, a governadora Yeda Crusius elegeu o dia de ontem como o início da recuperação financeira do Estado. Para simbolizar o ato, anunciou o pagamento integral e antecipado do 13º salário do funcionalismo.

Pela primeira vez desde 2003 o governo não recorrerá a empréstimos para quitar o compromisso com os servidores. O 13º será depositado no dia 5, uma quinzena antes do prazo legal, com dinheiro do caixa do Estado. O custo da folha extra chegará a R$ 584 milhões e beneficiará 319 mil servidores ativos e inativos.

– Um direito a mais, um conflito a menos – disse Yeda durante cerimônia que lotou o Salão Negrinho do Pastoreio, no Palácio Piratini.

Yeda, que entrou no salão sob acordes de saudação da Banda da Brigada Militar, lembrou que desde 1994 o pagamento do 13º era feito por meio de antecipação de ICMS, repasses extraordinários da União ou empréstimos junto ao Banrisul. Já as antecipações de pagamento do benefício eram de poucos dias. Em 2001, por exemplo, o magistério recebeu o 13º no dia 18 de dezembro.

O anúncio do 13º com recursos do Tesouro é resultado da conquista do déficit zero ainda este ano. Significa que o Estado fechará o ano com receitas e despesas equilibradas. O governo calculava chegar ao equilíbrio nas contas apenas no ano que vem, mas o comportamento da receita e a redução das despesas ao longo do ano permitirão ao Executivo fechar o fosso antes do planejado.

– Hoje, o Rio Grande do Sul pode comemorar um Estado equilibrado, que não depende mais de empréstimos para pagar os seus funcionários e que, em vez de gastar os recursos do contribuinte para pagar juros, fará obras e investimentos – afirmou a governadora, ressaltando que o Estado gastou R$ 150 milhões em juros das operações junto ao Banrisul.

O anúncio coincidiu com o primeiro dia da greve do magistério. A governadora reuniu integrantes da base aliada e do governo e parte da cúpula nacional do PSDB para comemorar a conquista. A intenção era mostrar uma virada de página no Piratini. O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) era um dos mais eufóricos:

– A governadora fez uma proeza: apronta o Rio Grande do Sul para cumprir seu destino verdadeiro, que é de motor da economia do país.

Diante de um público que lotou o salão, Yeda falou por 50 minutos. Iniciou tratando das dificuldades enfrentadas nos dois anos de gestão, lembrou da suspeita sobre a compra da sua casa e da crise política provocada pela fraude no Detran. Disse que “o governo caiu em maio”.

– De agora em diante, vamos falar dos programas estruturantes, de obras nas nossas estradas, de energia, de saneamento, de como melhorar a saúde, a educação e a segurança.

O líder da bancada do PT na Assembléia Legislativa, Raul Pont (PT), afirmou que o déficit zero é um mito para iludir a opinião pública. Ele argumentou que o atual governo não cumpre a exigência constitucional de aplicação de recursos em saúde e educação:

– A população não está sendo brindada com uma virtude do governo, mas com um tremendo equívoco, cuja resultado será um enorme passivo social.

Fonte: Zero Hora