Opinião: Sorte financeira do Rio Grande está lançada em Brasília
22/11/2007
A governadora Yeda Crusius e o secretário Aod Cunha estarão hoje em Brasília. Há duas semanas, na presença dos três senadores gaúchos, o ministro Guido Mantega prometeu que daria uma solução para os repetitivos pleitos financeiros. A situação do Tesouro do Estado é caótica, sabemos. Há um déficit em 2007 que não permite garantir o pagamento do 13º salário, menos ainda honrar em dia os vencimentos do funcionalismo do Executivo. A folha do Estado, incluindo o Judiciário e o Legislativo, é de R$ 750 milhões, dos quais R$ 480 milhões são a parte do Executivo. Em anos anteriores, abaixo de críticas, o governador Germano Rigotto recorreu ao Banrisul, no qual o próprio funcionário tomava emprestado o que tinha a receber, servindo o governo como avalista. Isso custava, e ainda está sendo pago, algo como R$ 80 milhões de juros, muito para a nossa penúria. Portanto, ou o governo federal bate o martelo hoje para a governadora Yeda Crusius, ressarcindo pela isenção nas exportações que o Rio Grande do Sul faz sem cobrar ICMS, da mesma forma que devolve R$ 1 bilhão, valor não-corrigido, que foi empregado na conservação das rodovias federais, ou não haverá fórmula alguma que impeça termos um final de ano desastroso para a economia gaúcha. Sim, pois que com o atraso dos vencimentos do funcionalismo e, antes, com o não-pagamento do 13º, as perdas nos negócios serão distribuídas pela indústria, pelo comércio e, provavelmente, também pela agropecuária.Menos consumo, menos imposto, maior inadimplência, fechando o círculo vicioso dos problemas que nos afligem há tantos lustros sem que uma solução final seja dada por alguém, em algum momento, colocando o Rio Grande novamente na senda do progresso e das realizações. É deprimente, constrangedor e contraria todo o ufanismo gaúcho de longas décadas, o de que somos diferenciados do resto do País. Mas se temos um nível político, social, econômico, cultural e de tradições que nos diferencia do resto do Brasil, onde ficou a organização financeira? Onde está a industrialização que nos livraria da dependência histórica, atávica mesmo, da chuva, do sol e do frio, componentes básicos da produção primária? Não, temos um ego que não condiz com a realidade. Hoje, no aqui e agora, através da governadora e do secretário da Fazenda, diante do todo-poderoso Guido Mantega, o paciente Rio Grande quedará em seu divã analítico, no momento mais crucial da relação do Estado com a União. Vamos tomar consciência da realidade. De um lado, a União com a responsabilidade da chave do cofre nacional. Se facilitar para o Rio Grande, terá de ceder aos pedidos dos demais estados. Se negar, tornar-se-á o símbolo massacrante dos gaúchos neste final de ano. Mas não podemos cair na tentação de sermos sempre os coitadinhos do Brasil. Erramos e feio, lá atrás. Deixamos a dívida rolar. Buscamos sempre artifícios e os discursos continuam repetitivos, pouco inspirados, monótonos, sem dizer como trazer dinheiro. A sorte, mais uma vez, está lançada. O que nos aguarda ao fim da reunião em Brasília pode ser o início do desespero ou o começo da volta por cima. Acontece que na vida política coletiva ou individual nós toleramos ou mesmo desprezamos os pequenos males. Mas quando as dificuldades se agravam desmesuradamente, como agora, procura-se com ansiedade o remédio. Para encontrá-lo, não recusamos qualquer meio, mesmo que tenhamos de recorrer às manobras, operações e idéias as mais violentas, dolorosas e arriscadas. É neste limiar da história regional que estamos.
Jornal do Comércio - Porto Alegre/RS
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