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A pior cidade de todos os tempos

David Coimbra

14/02/2007
Isso tudo tem me irritado. Para começar, esse troço de gestão. Todo mundo fala em gestão. Gestão, gestão. Sabe o que é gestão?
Economia.
Corte de gastos.
Isso é gestão, para esses caras. Um secretário da fazenda, um prefeito, um ministro, um governador de Estado, todos eles, quando assumem seus cargos, falam em gestão. Muito moderno, muito revolucionário, eles aprenderam novas estratégias em cursos nos Estados Unidos ou na Espanha. Ém-bi-êi, é como chamam esses cursos. O sujeito vai lá, faz ém-bi-êi e sai dizendo que está pronto para aplicar novos métodos de gestão. Aí funda uma empresa que presta assessoria ou vai trabalhar para o Estado. E arrosta:
- Temos que cortar as despesas.
Mas, Cristo!, a minha vó, Dona Maria Bernardina, já cortava as despesas em 1940! Então, esses são os novos métodos de gestão? Os da Dona Dina??? Por favor! Tão novos quanto os furúnculos que atormentavam Marx enquanto ele desvendava a mais-valia entre as chaminés de Manchester.
Mas eles vêm com essa conversinha, os discípulos do ém-bi-êi. Economia, economia. Meu avô, seu Walter, quando a Dona Dina queria economizar demais, já dizia:
- Economia é a base da porcaria.
E é!
Mas também não vá entender mal, não sou a favor do desperdício. Estou falando do gênero de economia que, por exemplo, pode ter sido feita pelo metrô de São Paulo. Há suspeita de que as empresas que realizavam a obra eram estimuladas a economizar no material empregado. Será que o tamanho do corte de gastos teve relação com o tamanho do buraco no qual sete pessoas perderam a vida? Se teve, talvez essa economia não tenha valido a pena, não é mesmo?

***
Vou dar um exemplo futebolístico, já que estamos dentro de fronteiras esportivas. Grêmio e Inter passaram por choques de gestão, tempos atrás. O Grêmio foi para a segunda divisão e o Inter gramou dois anos sem disputar uma única final, perdendo todos os Gre-Nais e terminando o ano sem time. Fernando Carvalho e Paulo Odone não aplicaram choque algum nos seus clubes. Também não foram perdulários, verdade. Mas investiram. O Inter, até há pouco, tinha 65 jogadores. O Grêmio contratou um time inteiro. Os resultados estão aí.
Um clube de futebol tem de investir no futebol.
O poder público tem de investir nas pessoas.
***
A propósito: dias atrás, li que a prefeitura de Porto Alegre está se jactando de fazer uma gestão muito enxuta, muito econômica. A prefeitura de Porto Alegre está satisfeita com sua atuação, ao que parece. Pois vou dizer: nunca, desde que os casais açorianos chegaram ao canal onde os escravos ergueriam a Ponte de Pedra, em 1845, nunca, desde então, Porto Alegre esteve pior. Nunca houve tanta gente abandonada nesta cidade, nunca se viu tantos mendigos esmolando pelas esquinas, tantos sem-teto dormindo debaixo das marquises, famílias morando dentro de canos, gente aos molambos emergindo dos esgotos feito ratazanas subnutridas, e pior, muito, muitíssimo pior: nunca houve tantos meninos e meninas vagando sozinhos pelas ruas, de pés descalços, imundos, ranhentos, tratados como cachorros nas sinaleiras.
Essa é a gestão da prefeitura de Porto Alegre.
***
E é pensando nisso, nesses meninos, nessa gente abandonada, que me irrito. Por causa do debate que se instaurou no Brasil, desde a morte brutal daquele menino no Rio, semana passada. Pois há dias só se fala em construção de presídios, em aumento do rigor das punições, em mudança do código penal. Tudo isso pode ser importante. Assim como é importante a economia de água que vem sendo feita pelo governo do Estado.
Mas é secundário.
Chocado com o assassinato bárbaro do menino, o Brasil passou a discutir as conseqüências, e esqueceu-se das causas. A idéia é punir quem faz, não evitar que se faça.
É possível evitar que se faça. Basta tirar esses meninos das ruas. Basta que a gestão seja voltada para as pessoas, não para o balanço contábil.
O Brasil clama por rigor contra o crime? Sou a favor. Sejamos rigorosos contra o crime ANTES que o crime seja cometido. Em vez de confinar menores nos presídios, vamos OBRIGÁ-LOS a ir para a escola. Em vez de lutar para que a legislação permita a detenção de meninos de 16 anos, vamos lutar para que a legislação torne OBRIGATÓRIA a internação de TODAS as crianças na escola, o dia inteiro. Inclusive o filho do rico. Inclusive o seu filho, minha senhora.
Não há dinheiro para tanta escola? Não há dinheiro para pagar tantos professores?
Há, sim.
Existe disposição na comunidade para um projeto de salvação nacional. Existe solidariedade de sobra no Brasil. Os jogadores de futebol são exemplos notórios, tantos deles que montam instituições de caridade, que querem, mas não sabem como ajudar. Se o Estado não tem recursos, o Estado tem liderança para orientar as pessoas com essa vontade, para mobilizar a comunidade, os empresários, os trabalhadores, nós todos.
Eu acredito que seja possível. Desde que se queira.
Fonte: Zero Hora de 14/02/07


Comentário do Afocefe:



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