Politização das contas
Zero Hora
19/06/2006
Por razões de ordem eleitoral, tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto seus oponentes na corrida pela sucessão presidencial tendem a evitar o debate sobre a necessidade de um corte nos gastos públicos já em 2007. Nenhum dos postulantes à Presidência da República tem interesse em admitir agora a urgência de providências em áreas que conflitam com os interesses de corporações influentes e costumam dar margem a polêmicas emocionais. Ainda assim, o eleito em outubro dificilmente conseguirá adiar a adoção de medidas duras e impopulares, como uma nova reforma da Previdência.
De alguma forma, o ministro da Coordenação Política, Tarso Genro, chamou a atenção para o problema ao lançar o debate sobre temas sensíveis, como direitos adquiridos. Líderes da oposição, por sua vez, têm defendido o enxugamento da máquina do Estado como forma de fazer com que o setor público possa continuar investindo. Os salários elevados e a excessiva ocupação da máquina administrativa, em grande parte por critérios políticos e não técnicos, estão na origem das deformações de caixa enfrentadas hoje. Nas proporções alcançadas, porém, os problemas não serão resolvidos apenas com providências como as defendidas de forma genérica por pretendentes ao Planalto.
Tanto representantes do governo quanto da oposição, de maneira geral, reconhecem que as maiores pressões sobre as contas públicas estão nos gastos sociais e na Previdência. A questão é que, num ano eleitoral como este e de início de governo como o próximo, é praticamente inviável a possibilidade de uma redução em programas como o Bolsa-Família, por exemplo. O próprio Congresso, por sua vez, tem colaborado para ampliar os gastos ao aprovar medidas como a extensão do reajuste 16,6% para todos os aposentados. No final, acaba restando sempre a Previdência como alternativa para uma redução dos dispêndios.
Ainda que os candidatos à Presidência devam fazer de tudo para fugir ao debate, é importante que a sociedade cobre mais transparência e objetividade na abordagem do tema. A politização das contas públicas só interessa a quem tem pretensões eleitorais, não ao conjunto da população. Quem quer que vá governar o Brasil a partir de 1º de janeiro terá que ter bem claro como pretende conciliar as crescentes demandas na área social sem abrir mão do ajuste fiscal e sem continuar pressionando o Tesouro da forma como ocorre hoje.
Despesas
Entre 1991 e 2005, as despesas do setor público aumentaram de 14% para 23% do Produto Interno Bruto (PIB). A ampliação se deve em boa parte ao maior investimento em proteção social.
Fonte: ZH
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