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"Poderemos ter uma renovação para pior"

Entrevista com Antônio Augusto de Queiroz, Diretor do Diap

22/05/2006
O diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz, tem uma notícia ruim para quem espera que os escândalos de corrupção afastem os maus políticos da Câmara e provoquem uma grande renovação.
Ao comentar o envolvimento de parlamentares com o mensalão e o recente caso das ambulâncias superfaturadas, o analista político diz que os substitutos dos que não se elegerem em outubro podem piorar a qualidade da atividade parlamentar. O Diap, com sede em Brasília, é um organismo de avaliação dos trabalhos do Congresso.
Queiroz, jornalista que acompanha os desempenhos da Casa há 16 anos, diz nessa entrevista que a renovação não é garantia de nada.
Zero Hora - Escândalos provocam mais renovação na Câmara?
Antônio Augusto de Queiroz - Geralmente, sim. Nas eleições deste ano, espera-se uma renovação nos mesmos patamares de 1990, quando a Câmara foi renovada em 62%. Foi logo depois da Assembléia Constituinte de 1988, quando tivemos várias denúncias, entre as quais a da compra de votos de parlamentares. Em 1994, a renovação foi de 54%, em 1998 ficou em 43%, e em 2002, em 46%.
ZH - A renovação significa que teremos mudanças?
Queiroz - Infelizmente, poderemos ter uma grande renovação para pior. A renovação é boa quando não é apenas quantitativa, mas qualitativa. Não há até agora nenhuma garantia de que ela possa ocorrer para melhorar. Pode-se prever também que muitos deputados sérios, mas desgastados pelas denúncias de corrupção e por terem votado ao lado do governo, como na reforma previdenciária, não sejam reeleitos porque têm bases sindicais cujos interesses podem ter sido contrariados.
ZH - Esta é a pior legislatura dos últimos 20 anos?
Queiroz - Não dá para assegurar. Mas é de fato uma das legislaturas mais questionadas do ponto de vista ético. Se a Câmara teve um presidente (Severino Cavalcanti, PP-PE) sem condições de exercer o cargo e que fazia todas aquelas bandalheiras, a imagem que ficou é a de que a grande maioria dos membros da Casa poderia fazer o mesmo. E tem ainda o efeito dos escândalos que expuseram as relações do governo e do PT com os partidos da base parlamentar. A imagem da Câmara é muito ruim. Mas a bandalheira sempre existiu. É que agora as instituições de fiscalização e investigação estão mais fortalecidas. As coisas que aconteceram não nasceram agora, estão apenas sendo mais explicitadas.

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