Doa a quem doer
JOÃO ADALBERTO MEDEIROS FERNANDES JÚNIOR
16/09/2005
por: JOÃO ADALBERTO MEDEIROS FERNANDES JÚNIOR/ Vice-presidente do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB/RS
A cada instante, o povo brasileiro é tomado de surpresa por novas e bombásticas notícias veiculadas nos mais diversos meios de comunicação, dando conta da existência, no meio político, de uma bem organizada teia corruptiva de proporções internacionais.
Há pouco se falava em três milhares de reais, agora já se ouve muitos milhões. Não faz muito, eles podiam ser transportados em cuecas, depois em malas e, agora, já são transferidos online para contas no Exterior. Até a confissão de um corrupto se esmaece imediatamente após a descoberta de que sobre ele há um comando maior, espraiado, mais articulado e muito mais rentável.
Mas o pior é que os patrocinadores deste grande filme de terror - do qual somos telespectadores e cujo fim temos medo até de pensar - ainda vêm tentando dar a aparência de normalidade para seus atos, através da exposição de um pacote de valores opcionais, tidos como aceitáveis ou rejeitáveis, de acordo com o capricho de seus usuários. E, lamentavelmente, nisso, não existe nada de novo, pois há muito já se encara a corrupção com ares de normalidade, pois ofuscados os valores e misturados os conceitos, já não mais se consegue distinguir, com nitidez, o que é freqüente do que é normal; o que é normal do que é lícito; o legalmente lícito do moralmente lícito e, o que é pior, o que é ético do que não é ético.
Portanto, entristecido, tenho que admitir que foi assim que, pouco a pouco, a sociedade foi sendo induzida a aceitar a freqüência e a repetitividade dos comportamentos anormais como parâmetros de normalidade.
No entanto, a realidade agora é outra. A imprensa, cada vez mais ágil e dinâmica, vem cumprindo, com destemor e seriedade, o seu papel numa sociedade democrática. O povo se mostra desperto como nunca e o cidadão brasileiro, assim como o cônjuge traído, quer satisfações, mas não essas que costumeiramente são dadas, pois de tergiversação já estamos cheios.
A hora é agora. O Brasil vive um momento ímpar. As cancelas para a higienização do sistema político estão abertas, mas para tanto precisamos que a verdade venha à tona, possibilitando um agir rápido, justo e preciso. E esta iniciativa é o que se espera, no mínimo, do mandatário número 1 da nação brasileira. O povo está farto de agonizar a dor da mentira e - assim como um filho que confia no seu pai - quer a verdade, dita olho no olho, doa a quem doer, só que isso precisa ser dito imediatamente, mesmo que seja necessário um auto-sacrifício.
Fonte: Zero Hora
Data: 16/09/05
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