Constituinte, e já
Mauro Santayana
08/06/2005
As declarações do deputado Roberto Jefferson não merecem muita credibilidade, pelo que ele é e pelo que sempre foi, mas não podem ficar sem uma resposta definitiva do governo. O PT não só deve voltar atrás de sua decisão de impedir a CPI dos Correios, mas é questão de sua sobrevivência solicitar outra CPI, a que trate das denúncias feitas por Roberto Jefferson. Qualquer tibieza no assunto deixará no ar uma grande e terrível suspeita.
Mas, da mesma forma, exige-se dos tucanos e pefelistas que peçam a reabertura de todas as CPIs arquivadas no passado. Todas as que o Sr. Fernando Henrique conseguiu interromper, usando dos métodos que Roberto Jefferson atribui ao Sr. Delúbio Soares, e que o parlamentar do PTB, fiel escudeiro (moral e físico) do Sr. Fernando Collor conhece muito bem. Já está passando a hora da grande devassa na vida pública brasileira.
Se os membros do Congresso e do Poder Executivo não agirem rapidamente, a fim de restabelecer o pacto político com os cidadãos brasileiros, não haverá mais instituições neste país. O presidente Luiz Inácio é maior do que a parcela “pragmática“ de seu partido. É maior do que os seus aliados no Congresso. Cabe-lhe dirigir-se aos cidadãos brasileiros e dizer-lhes que o seu governo não está sitiado somente pelos interesses do grande capital, mas também pela deterioração geral dos costumes políticos, que se expressa em grande parte dos parlamentares.
É preciso compreender que há vários níveis de corrupção no Estado. A manutenção das altas taxas de juros, que premia os rentistas e pune os setores produtivos (em primeiro lugar, os próprios trabalhadores) não deixa de ser uma forma de corrupção, por mais nos venham com racionalidades mercadológicas. Estamos diante de fatos concretos: toda a vez que a taxa de juros cai um ponto percentual, os banqueiros deixam de ganhar milhões. Bastou que, no ano passado, se reduzissem - e moderadamente - as taxas de juros, para que a economia reagisse favoravelmente. E já estamos, nestes primeiros meses do ano, sofrendo a redução do PIB, enquanto os bancos continuam lucrando cada vez mais e mais.
É bom voltar ao passado. Quanto o HSBC pagou pelo Banco Bamerindus? Quanto custou ao povo brasileiro o Proer? Ainda agora estamos assistindo a uma situação curiosa: o Ministro da Agricultura quer dinheiro do Fundo de Amparo aos Trabalhadores, a fim de socorrer o setor agropecuário. Quando foi que os empresários do setor agropecuário socorreram os trabalhadores?
O dinheiro do FAT foi criminosamente desviado pelo governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso a fim de financiar os compradores das empresas estatais brasileiras. Se estamos no capitalismo, valham as regras clássicas do capitalismo, que incluem os riscos dos negócios. O setor dos agronegócios, para usar o neologismo do mercado, ganhou mundos e fundos nos últimos anos - como bem sabe o governador do Mato Grosso. Cabe-lhe agora afrontar o momento difícil. O que o governo deve ouvir é o Grito da Terra e favorecer a pequena agricultura familiar, que produz para o consumo interno.
Não sejam eximidos de culpa alguns dos principais dirigentes do PT e vários membros do governo. Eles são responsáveis, seja pela ação, seja pela omissão, pelo que está ocorrendo hoje. Mas o presidente da República ainda merece a confiança dos brasileiros, conforme as pesquisas de opinião pública. Cabe-lhe, agora, inteirar-se de tudo o que está ocorrendo e lhe cabe dirigir-se à Nação e denunciar o cerco a que está sendo submetido. Cerco dos adversários conhecidos e cerco dos adversários dissimulados.
E lhe cabe, para resolver todos os problemas derivados da viciada estrutura política brasileira, usar de todo o seu prestígio, a fim de promover a convocação de imediata assembléia nacional constituinte, originária e desvinculada desse desconjuntado arcabouço partidário, a fim de reconstruir o Estado e reerguer a Nação. Se for o caso - e parece ser o caso - poderá pedir ao povo que, em consulta plebiscitária, determine, como é de seu poder, sua autoconvocação para eleger os deputados constituintes, com base geográfica e não partidária.
Fora disso só teremos a erosão do Estado e da nacionalidade. É provável que Lula tenha chorado, como disse Roberto Jefferson, se é verdade o que disse, porque, ao que parece, foi traído por membros de seu partido. Mas agora deve agir. Como o primeiro operário a assumir a chefia do Estado, e em defesa sua classe, não parece que ao presidente reste outro caminho.
Fonte: Agência Carta Maior
Data: 08/06/05
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